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Ainda há sonhos no século XXI?

  • Foto do escritor: Zysman Neiman
    Zysman Neiman
  • 3 de dez. de 2018
  • 4 min de leitura

“O sol há de brilhar mais uma vez, e A luz há de chegar aos corações. Do mal será queimada a semente, O amor será eterno novamente”. Nelson Cavaquinho

Sonhar, dizem, era hábito típico de jovens e de poetas, com especial intensidade em poetas jovens. Mas o sonho... esse foi, cada vez mais, sendo associado à românticos e ingênuos; ou, desde Quixote, à loucos.


O ser humano se distingue das demais espécies do planeta por possuir três características fundamentais: raciocinar, e com isso ser capaz de elaborar cultura; sentir, e assim se definir como um ser social; e criar, sendo a arte a expressão máxima dessa habilidade. Foi assim que nos constituímos, e dessa forma chegamos ao século XX: pensando, sentindo e criando.


Mas a técnica, filha da ciência - vertente da matemática -, resultado de milênios do amadurecer da razão, tem sufocado cada vez mais a filosofia - sua face mais humana -, substituindo-a por dogmas religiosos. Consumir, comprar, possuir, incluindo aqui a comercialização da fé, são anseios que têm substituído os sentimentos e se transformado em modelos de “felicidade” de uma sociedade hipnotizada e robotizada. A arte vem se resumindo, cada vez mais, ao mero entretenimento, versão rasa e consumível da estética. Assim estamos; assim vivemos neste século XXI.


Se sonhar exige a capacidade de idealizar o futuro e enxergar nele uma perspectiva melhor que a da vida real, como fazê-lo sem filosofar, emocionar-se ou apreciar a beleza? Os sonhos de “paz e amor”, “um mundo melhor é possível”, “liberdade, igualdade, fraternidade”, “mundo maravilhoso”, são impossíveis afinal? Miguel de Unamuno diria: “Recuerda, pues, o sueña tú, alma mia – la fantasia es tu sustancia eterna – la que no fue; com tus figuraciones hazte fuerte, que eso es vivir, y lo demás es muerte”.


Penso que nos tempos atuais a sustentabilidade é o conceito síntese do que nos resta como espaço de sonhar. É sob sua multidimensionalidade que podemos abrigar tantas outras utopias que moveram a humanidade ao longo dos tempos, ampliando seu espectro e dando-lhes abordagem sistêmica e integradora.


Cabe na sua dimensão social os ideais libertários de equidade e garantia do bem viver para todas as pessoas, com direitos duramente adquiridos respeitados e a preservação da dignidade para cada um. Sua dimensão econômica nos lembra que os sistemas políticos e financeiros devem estar a serviço dos cidadãos, e não o contrário, estimular a solidariedade, a partilha e a cooperação ao invés da competição e do individualismo. A dimensão ambiental nos apresenta soluções possíveis para compatibilizar o necessário uso dos recursos naturais do planeta com sua capacidade de reposição. Trata-se de uma visão sistêmica intergeracional de futuro que respeita direitos de quem ainda nem chegou.


Para quem erroneamente acredita que a sustentabilidade é uma proposta de retrocesso aos avanços tecnológicos ou civilizatórios que nos possibilitaram encontrar soluções para problemas de saúde, educação, qualidade de vida, segurança, alimentação, habitação ou usufruir das “maravilhas” contemporâneas, digo que é exatamente o contrário. Trata-se, apenas, de uma alternativa que de fato pode garantir que essas conquistas sejam perenes (sustentabilidade significa, literalmente, “aquilo que dura ao longo do tempo”). Ou ainda, para quem interpreta sua dimensão política como uma ruptura com os sistemas capitalista ou socialista de organização da sociedade, vale dizer que a sustentabilidade nada mais propõe do que um ajuste simples aos dois sistemas dicotômicos (e suas variantes menos radicais) no sentido de mudança da crença de “crescimento infinito da economia” para “desenvolvimento com respeito à capacidade de regeneração dos recursos naturais”. Não se trata de consumir “menos”, mas sim de consumir “melhor”.


Para que resolvi então criar mais um blog para conversar sobre sustentabilidade?


Vivemos uma época na qual a ignorância é um valor, a emoção é um defeito, a arte é um produto comercial, e a religião é materialista. Tempos difíceis para se falar em sustentabilidade, que exige, justamente, a capacidade de sonhar e, mais que isso, de agir para a consolidação do sonho. Estamos falando do resgate, ou melhor, da manutenção das lutas de tantos outros que nos antecederam. Trata-se do seguir adiante, revendo erros do passado e corrigindo a rota.


Você ainda é capaz de sonhar?

Está disposto a estudar, aprender, e refinar sua compreensão da realidade? Ainda consegue admirar a natureza, se emocionar com a música ou com a poesia? À essas perguntas, duas respostas são possíveis:


Não

Então uma sociedade sustentável é utopia; o século XX mora definitivamente em você.


Sim

Então vamos conversar a respeito! Seja jovem, poeta ou louco, ou nada disso, ou tudo isso junto, você é um cidadão do século XXI.


Este blog terá como objetivo alimentar sonhos, esclarecer conceitos, comentar acontecimentos, disseminar ideias de boas práticas, traduzir conhecimento científico para linguagem mais acessível, e trocar experiências. Pretende diminuir preconceitos, apontar caminhos, propor soluções. Sem ser “ecochato”, “acadêmico” ou “radical”, anseia ampliar o time daqueles que desejam construir um futuro melhor a partir da compreensão das causas dos problemas, única maneira de corrigi-los definitivamente.


Sustentabilidade, palavrão de 7 sílabas, 16 letras que muitos pensam ser sinônimo de “meio ambiente”, “ecologia”, “militância xiita”, “combate a modernidade” etc., é o conceito a ser dissecado e compreendido. Não há como a humanidade prosseguir sem ela.


Tentarei caminhar nessa direção, com ajuda da razão, da emoção e da arte.

 
 
 

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